05/12/2011 - Parte 1

05 de dezembro de 2011

20 dias para o natal, para todos estarem comemorando o dia com alegria, união e principalmente com saúde. Depois que descobri o câncer ando me perguntando como será o meu natal esse ano? Luan fez planos para poder passar em sua chácara mas como estarei até lá? Outra pergunta que não sei da minha cabeça é descobrir qual câncer eu tenho, será que é no pulmão? Cérebro? Ou qualquer outro que possa me tirar a vida, ou será que pode me proibir de fazer algo que tanto planejo e que jamais imaginava não poder?

Nem mal dormi a noite, a ansiedade não deixava o sono me encontrar, senti medo, medo do resultado, medo do que terei que passar, senti vontade de fugir, correr para longe para que ninguém saiba do meu paradeiro e lá deixar a doença me matar aos poucos, sem fazer ninguém sofrer. Fico pensando, quantas vezes eu reclamei de algo, reclamei porque tinhas contas para pagar, porque tinha trabalhos escolares a fazer, porque não consegui a atenção do carinha que tanto queria ficar, porque não tinha conseguido ganhar a tão sonhada promoção, mas agora vejo que essas reclamações não são nada mais nada menos que meras preocupações jogadas ao ar, será que daqui alguns meses eu terei elas? Terei tempo de ir em uma agencia pagar uma conta? Poderei ir trabalhar? Ficar ao lado de quem eu amo? Ou ficarei 24 horas deitada na cama de um hospital? To com medo do dia do amanhã, tenho medo da surpresa que ele me preparou.

Acordei com uma mensagem da Drª Vivi, pedindo para que eu fosse o mais cedo possível, como Barretos era um pouco distante, madruguei, peguei meu carro e fui em direção a pequena cidade, ao chegar lá vou direto a recepção, aviso a recepcionista sobre a Drª e ela me pede para aguardar até que eu seja chamada, apontando a sala de espera que ficava no final do corredor.

Ando por aquele caminho, praticamente flutuava pois minhas pernas tremiam tanto que não entendia como estava caminhando ainda, o caminho era curto e longo, e durante todo o trajeto via pessoas passando por mim chorando, rindo, com presentes, carecas, com toca, com luvas, com mascaras de proteção, antes de chegar nesse corredor vejo uma porta que me chama atenção, paro para poder ler o que estava escrito em uma placa, que me deixa mais curiosa ao ler “Projeto mais adultos” não entendendo entro e me deparo com bastante crianças, todas carecas, brincando com seus pais ou brinquedos que estavam espalhados pelo chão, olho para o lado e vejo o mural de pessoas que contribuem para o projeto, e dou um sorriso involuntários ao ver uma foto de Luan cercado por essas crianças, e com uma delas no colo, que chorava e podia perceber pelo seu olhar que é de alegria.

- Sou fã dele moça – uma menina diz atrás de mim, quando olho para trás vejo que era a menina da foto

- Oi? – digo sem entender

- Sou fã do Luan Santana – ela pega a foto – eu sou esta aqui.

- Muito linda você sabia?

- Obrigada – ela diz tímida colocando a foto no lugar – poucas pessoas me dizem isso depois que cortei meu cabelo – ela fala triste

- Ei vem cá – me sento em uma cadeira e peço para ela se sentar em meu colo – como é seu nome?

- Bianca.

- Bianca, nome lindo – falo passando as mãos em sua cabeça, onde ali tinha belos cabelos caídos -  Todo mundo que um dia te chamou de feia, não sabe como você é por dentro, e o que vale é a beleza que você guarda para poucos e não mostra a todos, afinal são poucos quem tem a oportunidade de te conhecer.

- Mas você nem me conhece.

- Mas percebi o quanto você é especial.

- Obrigada – ela diz se levantando

- Ei, vai embora e não vai me dizer como conheceu esse moço bonito da foto? – ela ri e volta a se sentar em meu colo, pegando a foto e me contando a historia

- Então a Xuxa foi atrás dele e ele gravou ele cantando a música “noite traiçoeira” para mim, depois que se passou um tempinho ele veio nos conhecer – ela dizia animada terminando a história

- Que linda – digo com uma lagrima no rosto – Pode saber que Luan deve ter gostado

- E você tem o que? Ou só veio nos visitar?

- Eu acho que tenho câncer.

- Ta com medo?

- Muito

- Também senti medo no começo, mas não é nada demais você vai ver, vira rotina, você se acostuma e o que mais te dará motivos para continuar na luta é o amor de alguém, em pensar que esse alguém está te esperando – ela disse descendo do meu colo – e falando em esperar minha mamãe deve estar me esperando – ela me dá um beijo na bochecha e corre em direção a mesa em que sua mãe estava sentada.

Continuo caminhando pela sala e vejo um pai com o se filho, acho que é por espírito de repórter sentir curiosidades e fazer perguntas, mas sentia tanto medo que apenas me sentei perto dele e fiquei observando ele, brincando com seu filho que ria, como se nada estivesse acontecendo.

- É seu filho? – pergunto puxando papo

- É sim

- Hum... – fico envergonhada

- Ele já está vencendo a luta contra o câncer. No meio do tratamento todo mundo tem que se acalmar, ter paciência e fazer o tratamento com calma que com Deus ao lado tudo se resolve.

- Graças a Deus né? – falo animada.

- Infelizmente tive que tirar ele da escola, ele fala que sente muita falta dos amigos dele, e assim como todos nós chorou quando descobriu, mas ele me fala todos os dias que a nossa família foi quem deu forças para ele continuar – ele fala rindo enquanto seu filho vem correndo se encontrar com ele, chamando-o para poder ir encontrar o médico.

Saio da sala meio zonza, todo mundo me falando sobre sua vida, de como superou o câncer, será que comigo será assim também? Elas me falavam o que deram forças a ela para continuar, como se fosse um sinal para mim. Vou para a sala de espera, lá todos contavam um pouco de sua vida, algumas historias marcaram muito.

- Olá sou Fernanda Angelica, tenho 32 anos, 11 anos de casada e uma filha de 5 anos, em 2008 fui diagnosticada com câncer de mama e de pele,  fiz cirurgia, quimioterapia e radioterapia, em janeiro  a doença voltou. Estou com metástase na coluna e no cérebro, fiz cirurgia novamente e segundo os médicos posso ficar paraplégica, semana que vem vou fazer outra sessão de quimioterapia e estou com bastante medo pois não sei o que pode dar, sei sei o inicio mas não sei o fim, minha  força para lutar é ver minha filha, é a vontade de ver ela viver, ver ela crescendo, se formando e construindo uma família, por isso ainda não desisti, e continuo nessa vida de injeções, vacinas, cirurgias e visita ao médico – ela falava enquanto entro na sala, me surpreendo ao ver que Reynaldo Gianecchini estava na sala, me sento em uma cadeira quando observo ele se levantando e indo para o centro do circulo.

- Não preciso me apresentar né – ele diz tímido - Não sei quando exatamente começou, falar a verdade eu nunca imaginei que pudesse ter câncer. Tudo começou com algumas alergias, todo ano tinha alguma coisa, infecções, começou a sair umas pintinhas no pescoço, todo mundo falava: aah é uma virose, mas ai eu fui achando no corpo inteiro, procurei uma patologista e depois de um mês veio o resultado do diagnóstico, estava com câncer, um câncer bem raro. Claro que esse diagnostico quando vem, te assusta bastante, porque como eu disse não esperava ter essa doença, segundo porque é uma doença que todo mundo tem uma historia sobre ela, das pessoas que não conseguiram vencer, de familiares que faleceram. Mas quando menos imaginei, fui recebendo um amor tão grande das pessoas. E esse amor era tão tocante, acho que fez tão parte do meu crescimento, para buscar essa minha força, afinal o compartilhar o amor é o grande fundamento, é nessa hora que aprendemos a amar, e é através desse amor que buscamos a cura.Quantas vezes eu tentei fazer planos e a vida me mostrou que não era exatamente esse caminho, era para o outro lado, então eu fui me deixando ser flexível para aceitar, e nunca me arrependi, mas eu nunca entendia o porque, porque a vida me levava para o outro lado, mas ela me levava para seguir o melhor caminho. Levo essa doença nesse sentido, como um novo lado a seguir que a vida me dá, ela olhou para mim e disse: você está pensando em ir por aqui, mas te farei ir por lá, para poder enxergar a realidade, um monte de coisas. Para melhorar o nosso dia, a pessoa não precisa fazer nada, apenas chegar em você, abrir um sorriso sincero, dar um bom dia animado. Mas uma missão posso levar dessa doença, ela foi como uma dádiva para mim e serviu para poder unir minha família. Graças a Deus venho a minha ultima consulta e daqui alguns meses posso voltar a trabalhar – ele se senta enquanto todos batiam palmas a ele.

- Meu nome é Anny, bom uso meu lema que o amor cura o câncer, há verdade é, que quando você ama alguém você realmente ama. E há muito modos desse alguém ser a pessoa errada, e esta era a maneira de Gavin, meu noivo, ser a pessoa errada, ele era desafiante e veio com uma sentença que é muito próxima e horrível. Mas fiquei tão apaixonada por ele, que não me importou. Muitas pessoas pensam que o câncer de pele é fácil de se curar,  e as vezes é, mas em 95% dos casos você tem melanoma,mas no meu caso era do tipo 3 o mais difícil de ser tratado. Lembro que no começo Gavin foi o único a estar comigo, ia comigo no hospital e brincava todos os dias comigo, dizendo: veja pelo lado bom, pelo menos você não tem um tumor no cérebro. E conforme foi sendo meu tratamento, ele jamais me abandonou, por mais agressivo que ele era, por mais temperamental e por mais que as pessoas tem falado que ele não era a pessoa certa para mim, ele foi o único a estar ao meu lado, nos momentos piores e nos momentos mais difíceis, agora no final do tratamento eu posso lhe dizer que não me arrependo de ter largado tudo para ficar com ele, e foi o amor dele que me deu forças e está me ajudando nessa luta contra o câncer – ela se senta, então chega uma voluntária e começa a chamar as pessoas para ser atendida, quando ela volta para tomar água, me aproximo dela.

- Bom dia – digo tímida.

- Ah olá querida.

- Tudo bem?

- Sim

- Desculpe perguntar, mas tenho algumas curiosidades

- Pode fazer suas perguntas

- Ah quanto tempo você é voluntária?

- Sou voluntária a 5 anos. A gratificação é imensa, tendo Deus ao lado é a maior gratificação do mundo, me sinto muito sensibilizada quando vou para casa, esperando voltar na próxima semana e encontrar a criança aqui, ou feliz em casa, mas infelizmente elas já partiram – ela fala segurando o choro.

- Ah desculpa – digo tímida

- Que isso é a vida né? Agora tenho que ir trabalhar, Deus te abençoe – ela fala se afastando

Me sento confusa, todos aqueles depoimentos, a forma que eles buscavam a cura não era no tratamento e sim no amor, quando uma senhora se aproxima de mim.

- Descobriu o câncer agora?

- Sim – falo chorando, não sei porque, mas sentia um medo tão grande dentro de mim

- Sabe o que que é?

- Ainda não.

- A espera do diagnóstico é horrível né?

- Pois é.

- Graças a Deus já passei por essa fase, já tive câncer, e hoje com 82 anos, uma pessoa ótima, vivo sorrindo, sou uma pessoa muito feliz, mulher independente, trabalho, cuido da minha casa, sem pedir ajuda aos outros,  me sinto uma uma vencedora, eu sai de um câncer que eu achei que não ia consegui e agora finalmente faço alguma coisa que me agrada o que não me agrada não faço,  me sinto uma pessoa melhor do que antes e sabe o que é mais engraçado? – ela pergunta e eu pergunto o que apenas com o olhar – Que depois da doença a gente valoriza muito a vida, colocando a saúde em primeiro lugar.

- Que lindo – digo emocionada

- É minha querida, e estou onde estou graças a minha família e meus amigos, principalmente meu marido que me deu forças.

- Muito fofa a senhora, e o que veio fazer aqui?

- Exames de rotina – ela fala sorrindo

- Sara Storch – a voluntária sai e me chama – a Drº te espera

Me despeço da senhora, e caminho até a pequena porta, com o coração disparado, medo, ansiedade e principalmente, preocupação com o que virá.

Negas!

Antes de vim postar o que ela tem fui pesquisar uns depoimentos pra vocês poderem entender um pouco mais da vida das pessoas que tem câncer, essas palavras foram realmente ditas, vi vários videos no youtube e escolhi algumas aqui, todos os depoimentos são baseados em historias reais, todas as palavras foram ditas por alguém que sofreu e está sofrendo com o câncer.

E o próximo capitulo como será?

Posto depois de 7 comentários ok?

Fiquem com Deus ;* Kellyane

PS. Postei antes de chegarmos aos comentários pedidos, porque o capitulo de ontem foi muito pequeno, chato e sem conteúdo.